Em consulta de Sexologia Clínica, é frequente receber casos de mulheres que têm dificuldade em ter orgasmos. É muito comum ouvir histórias de pessoas que nunca conseguiram ter um orgasmo na sua vida, outras que ficam muito preocupadas porque é fácil para elas alcançar orgasmos durante a masturbação mas dificilmente com a parceria, e ainda outras que se mostram indignadas pois não conseguem obter orgasmo no decorrer da penetração vaginal, sendo possível alcançá-lo noutras atividades sexuais.
Comecemos pelo início: o que é um orgasmo?
Podemos caracterizar genericamente o orgasmo como uma sensação variável e transitória de intenso prazer que pode criar leve alteração do estado de consciência. É acompanhado de contrações rítmicas e involuntárias da musculatura pélvica, muitas vezes com contrações uterinas e anais. Este estado dura, em média, 5 a 12 segundos e culmina, geralmente, com a sensação de bem-estar e satisfação, derivado da libertação de oxitocina e prolactina.
A dificuldade em alcançar o orgasmo é comum?
Podemos dizer que sim! Os estudos epidemiológicos realizados em diversos países indicam que as dificuldades do orgasmo são condições bastante prevalentes na população geral (entre 17% a 41%). No panorama português, os problemas sexuais têm uma expressão significativa, sendo que 16.8% das mulheres refere que não alcança o orgasmo em todas ou na maioria das relações sexuais e, 19.4% das mulheres admite alcançar o orgasmo apenas em metade das vezes.
O que pode despoletar esta dificuldade?
Existem vários fatores que podem condicionar a possibilidade de obter um orgasmo. As razões mais comuns incluem:
- Estimulação sexual inadequada e insuficiente;
- Foco excessivo na penetração;
- Educação sexual pobre e conservadora;
- Problemas relacionais;
- A toma de alguns fármacos, incluindo antidepressivos, anti hipertensores e medicação cardiovascular;
- Alterações hormonais, particularmente após gravidez e menopausa;
- Eventos stressantes e/ou traumáticos;
- Condições médicas, como fibromialgia, dor crónica, esclerose múltipla, artrite.
E quando a dificuldade acontece durante muito tempo?
Quando estas dificuldades são persistentes e recorrentes ao longo do tempo, podemos estar a falar de uma Perturbação do Orgasmo Feminino. Esta condição caracteriza-se pela dificuldade em atingir o orgasmo e/ou redução acentuada da intensidade das sensações orgásticas, causando um mal-estar clinicamente significativo. Contudo, a vivência desta condição varia de pessoa para pessoa, existindo diferentes níveis de impacto no funcionamento emocional, motivacional, interpessoal e físico.
Qual o tratamento para esta condição?
Se existir a suspeita de uma Perturbação do Orgasmo Feminino, o tratamento da mesma ser realizada em conjunto pela Psicologia, Ginecologia e Fisioterapia Pélvica, de forma a abranger os diferentes impactos da mesma. E, por isso, em consulta de Sexologia é feita referenciação para outra especialidade, sempre que se justifique.
Caso se identifique com os sintomas suprarreferidos, é importante procurar ajuda. O primeiro passo para resolver um problema é assumir a existência do mesmo!