Até há pouco tempo, acreditava-se que a atividade física poderia agravar a saúde das pessoas que sobreviveram ao cancro da mama, especialmente aquelas que desenvolveram linfedema, um inchaço crónico que geralmente ocorre após o tratamento. No entanto, um estudo publicado no Journal of Cancer Survivorship revelou que os benefícios da prática de exercícios nesses casos superam os riscos enfrentados pelas pacientes. Essa análise foi conduzida por investigadores da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos.
O sedentarismo apresenta mais riscos à saúde do que a prática de exercícios, mesmo para pessoas em processo de recuperação da doença. A prática regular de atividade física pode até diminuir a probabilidade de recorrência do cancro. Segundo o Dr. Auro Del Giglio, “a prática de atividade física pelo menos três vezes por semana é uma excelente ferramenta para restaurar e melhorar o bem-estar físico durante o tratamento do cancro de mama. Os exercícios aumentam a força muscular e a capacidade funcional, além de auxiliar no controle do peso, reduzir os sintomas de fadiga e melhorar a autoestima e a qualidade de vida do paciente”.
A obesidade, que tem crescido drasticamente nas últimas quatro décadas, aumenta as probabilidades de desenvolver problemas de saúde, como diabetes e doenças cardíacas. Embora ainda não haja uma ligação comprovada entre obesidade e cancro, o excesso de peso influencia negativamente o tratamento da doença.
Benefícios do exercício físico no cancro da mama
A atividade física não apenas contribui para o bem-estar geral, mas também para a preservação da saúde. Os exercícios ajudam a equilibrar o metabolismo e reduzem o aparecimento de doenças crónicas, como hipertensão e diabetes.
Desta forma, o exercício é um excelente aliado em todas as fases da vida, inclusive após o tratamento do cancro da mama. Recomenda-se a prática de atividades aeróbicas e anaeróbicas. Um dos efeitos colaterais do tratamento do cancro da mama é a fadiga, que reduz a capacidade de realizar atividades diárias e de longa duração, prejudicando seriamente a qualidade de vida. O Dr. Giglio afirma que “uma mulher diagnosticada com cancro da mama também se beneficia ao se movimentar regularmente, e os exercícios ajudam a combater a fadiga e podem melhorar o perfil lipídico das pacientes”.
Exercícios moderados, realizados pelo menos três vezes por semana, desempenham um papel importante na redução do risco de outros tipos de cancro. Vários estudos já comprovaram a eficácia da atividade física na prevenção da doença. Caminhar, correr, jogar ténis e praticar jardinagem são exemplos de exercícios que não apenas queimam calorias e melhoram o colesterol, mas também podem ajudar a diminuir a ansiedade durante o tratamento do cancro.
A observação clínica e os estudos epidemiológicos permitiram perceber que, de alguma maneira ainda não conhecida, a prática de atividade física previne o cancro, bem como a recorrência de tumores malignos em pacientes previamente tratados.
Como é que a atividade física previne o cancro?
A prática de atividade física, juntamente com uma alimentação saudável e o controlo do peso corporal, tem sido valorizada como um “estilo de vida saudável” essencial na redução da incidência e mortalidade de doenças modernas, incluindo o cancro, diabetes e doenças cardiovasculares.
Os exercícios físicos contribuem para a diminuição do stress oxidativo causado pelos radicais livres, que são gerados pelo consumo de alimentos fritos, álcool, tabaco, entre outros. Esses radicais podem causar mutações no DNA das células, contribuindo para o desenvolvimento do cancro.
Além disso, os exercícios ajudam a equilibrar diversas hormonas envolvidas no crescimento de tecidos, como as hormonas sexuais e a insulina, e tendem a diminuir processos inflamatórios e o acúmulo de gordura abdominal, perigosa para a saúde.
Evidências epidemiológicas sugerem que pessoas ativas apresentam 20% menos probabilidades de desenvolver cancro da mama.
Ajuda no Tratamento
Existem fortes evidências de que tanto a atividade física quanto uma alimentação saudável influenciam o sucesso do tratamento do cancro maligno.
Estudos mostram que pacientes que realizavam caminhadas de pelo menos 5 km, cinco vezes por semana, após a cirurgia de cancro da mama, apresentavam uma redução de 60% no risco de recidiva da doença.
Em resumo, além de ajudar na prevenção do cancro, o exercício físico também contribui para a cura de pacientes que já tiveram a doença. Se considerarmos que a qualidade de vida das pessoas pode ser enriquecida por meio do exercício, percebemos que ele se tornou um recurso formidável, algo que a medicina e a sociedade não imaginavam ser possível ou plausível até muito recentemente.
Fazendo um enquadramento
O tratamento do cancro da mama, como cirurgia (mastectomia radical ou conservadora), quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia, pode comprometer o organismo dessas pacientes, causando consequências físicas, como fadiga e dores, além de alterações na imagem corporal, declínio psicológico, emocional e social. Também é observado o diagnóstico de sarcopenia, que está associado ao declínio físico e até mesmo à instabilidade em pacientes com cancro.
Neste sentido, é importante destacar a necessidade de intervenções que minimizem essas complicações, associadas a um estilo de vida saudável, especialmente em relação aos hábitos alimentares e aos níveis de atividade física. A atividade física é associada como uma forma de reduzir os comprometimentos e melhorar a qualidade de vida desses pacientes, minimizando os declínios decorrentes do tratamento. Além disso, em alguns casos, são observadas relações positivas com a diminuição do risco de mortalidade após o diagnóstico do cancro da mama.
Qual a relação entre atividade física e cancro da mama?
A atividade física pode influenciar positivamente os desfechos do cancro da mama. Muitos estudos mostram que as mulheres fisicamente ativas têm um risco menor de desenvolver cancro da mama do que as mulheres sedentárias, principalmente na pós-menopausa.
Num grande estudo publicado em 2013, a redução média do risco de cancro da mama associada à atividade física foi de 12%. Para as mulheres que já desenvolveram a doença, há evidências de que a atividade física após o diagnóstico está relacionada a melhores resultados no cancro da mama.
Outro estudo descobriu que as mulheres que se exercitavam moderadamente (equivalente a caminhar de 3 a 5 horas por semana em ritmo médio) após o diagnóstico de cancro da mama tinham aproximadamente 40% a 50% menos risco de recorrência da doença, morte por cancro da mama e morte por qualquer causa em comparação com mulheres menos ativas. O potencial benefício da atividade física em relação à morte por cancro da mama foi mais evidente em mulheres com tumores com receptores hormonais positivos. Além disso, alguns tratamentos para o cancro da mama podem causar fadiga intensa ou mal-estar. Neste cenário, o exercício pode influenciar positivamente certos efeitos colaterais relacionados ao cancro, como fadiga, neuropatia periférica induzida por quimioterapia, comprometimento cognitivo relacionado ao cancro e linfedema.
Qual é a recomendação?
Como resultado, recomenda-se que as mulheres realizem pelo menos 150 minutos (2 horas e 30 minutos) de atividade física de intensidade moderada por semana. A atividade de intensidade moderada deve fazer o coração bater mais rápido.
Esses minutos podem ser divididos como desejado. Por exemplo, pode realizar 30 minutos de atividade física em cinco dias por semana. Se preferir períodos mais curtos, pode fazer 10 minutos três vezes ao dia, em cada um desses dias.
Qualquer quantidade de atividade é melhor do que nenhuma. Se tiver dificuldade em alcançar os 150 minutos, comece por reduzir o tempo em que fica sentado ou inativo e aumente gradualmente ao longo do tempo.