Glossário / Perturbação Stress Pós-Traumático
Perturbação Stress Pós-Traumático
O que é?
Após a ocorrência de um acontecimento de vida traumático, é comum a existência de sintomatologia ansiosa, flashbacks (re experienciação do trauma), hiperestimulação e hipervigilância, anedonia, labilidade emocional, alterações na perceção de si e do mundo, abuso de substâncias, e emoções como tristeza, culpa, vergonha, medo, etc.
Esta sintomatologia pode iniciar-se umas horas depois do acontecimento traumático, e se durar entre dois dias e quatro semanas, designa-se como Perturbação Aguda de Stress. A sua perduração para além das quatro semanas, constitui a Perturbação de Stress Pós-Traumático.
Causas
De entre os critérios de diagnóstico do DSM-5 (Associação Americana de Psiquiatria, 2014) , destacam-se os seguintes:
- (A) Exposição a ameaça de morte, morte real, ferimento grave ou violência sexual, quer direta ou indiretamente (através do testemunho do acontecimento, ou tomando conhecimento de que ele ocorreu a alguém próximo), ou exposição repetida ou extrema a pormenores relativos ao evento;
- (B) Presença de pelo menos um dos seguintes sintomas intrusivos: lembrança intrusiva, involuntária e recorrente do evento que causa mal-estar; sonhos perturbadores recorrentes, cujo conteúdo e/ou emoções estão relacionadas com o evento; reações dissociativas em que o indivíduo sente ou atua como se estivesse a vivenciar o evento traumático de novo; mau estar psicológico intenso e/ou prolongado aquando da exposição a estímulos que se assemelham ou simbolizam a aspetos do evento traumático (triggers); reações fisiológicas intensas aos triggers;
- (C) Evitamento persistente de estímulos associados ao evento traumático, tais como: memórias, pensamentos ou emoções que causem mal-estar, relacionados com o evento; e estímulos externos (pessoas, lugares, conversas, atividades, objetos, situações) que suscitam tais memórias, pensamentos e emoções;
- (D) Alterações negativas nas cognições e no humor associados ao evento traumático, tais como: incapacidade para lembrar um aspecto importante do evento (devido a amnésia dissociativa); crenças ou expectativas sobre o próprio, os outros ou o mundo, exageradamente negativas e persistentes; cognições distorcidas persistentes acerca das causas e/ou consequências do evento traumático que leva a atribuições de culpa erróneas; estado emocional negativo persistente; interesse ou participação diminuídos em atividades significativas; sensação de estar desligado ou de estranheza quanto aos outros; incapacidade persistente de experimentar emoções positivas;
- (E) Alterações significativas da ativação e reatividade associadas aos acontecimentos traumáticos, tais como: comportamento irritável ou acessos de raiva, expressos através de agressões físicas ou verbais, com pessoas ou objetos; comportamento imprudente ou autodestrutivo; hipervigilância; resposta de sobressalto exagerada; dificuldade de concentração; perturbações no sono.
A existência desta Perturbação afeta as diversas áreas de vida do indivíduo, quer pela existência de sintomatologia intrusiva e/ou de evitamento que perturba o normal decorrer do seu quotidiano, quer pelas alterações comportamentais devidas à reatividade e alterações negativa nas cognições e no humor.
Tratamento
O tratamento desta Perturbação passa por pelo menos uma das seguintes intervenções: psicoterapia (especial destaque para a cognitivo-comportamental, narrativa, e de auto-compaixão), terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), neurofeedback, journaling, yoga/mindfulness, e psicodrama.
Também é de extrema importância o suporte social, e pode ser benéfica a adesão a atividades artísticas (e.g. música, dança, teatro) e rituais comunitários (e.g. missa, atividades de voluntariado)
Referências
- Associação Americana de Psiquiatria. (2014). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais: DSM-5. (J. C. Fernandes, Ed.) Lisboa: Climepsi Editores.
- Baptista, T. M., & Neto, D. D. (2022). Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais (Vol. 2 Perturbações e Grupos Específicos). Lisboa: Edições Sílabo, Lda.
- Van der Kolk, B. A. (2014). The body keeps the score: Brain, mind, and body in the healing of trauma. Viking.