Perturbações do Humor

As perturbações do humor constituem-se como um grupo heterogéneo de quadros de alterações do humor, comportamento, fisiológicas, emocionais e cognitivas, que se podem manifestar em episódios isolados ou recorrentes.  

São perturbações que comprometem não apenas o humor, como também a dinâmica afetiva e as relações, podendo gerar impacto em diferentes áreas da vida, tal como a dinâmica familiar, desempenho profissional ou escolar, vida social e relações amorosas. Consequentemente, são perturbações que acarretam efeitos nefastos para a pessoa que vive com esta condição, dependendo estes da gravidade e tipo de sintomas associados.

Há diferentes tipos de perturbações do humor, que se organizam em dois eixos básicos: Perturbações unipolares do humor, caracterizadas pela presença de alterações exclusivamente na linha depressiva; Perturbações bipolares do humor, caracterizadas por alterações na linha da irritabilidade ou euforia patológicas e, dependendo da intensidade e duração, podendo assumir a forma de mania ou hipomania.

• Depressão: Perturbação do humor caracterizadas pela presença de alterações na linha da tristeza patológica e depressiva, que pode incluir sintomas como angústia, melancolia, ansiedade, desânimo, falta de iniciativa e energia no desempenho das atividades de vida diárias, fadiga e falta de motivação. 
• Perturbação Bipolar: condição caracterizada por alterações de humor e comportamento, de forma sequencial ou simultânea e muitas vezes repentinas. Estas alterações podem ser acompanhadas por sintomas na linha da irritabilidade ou euforia patológicas, configurando, de acordo com a intensidade e duração, mania ou hipomania.
• Ciclotimia: Ciclotimia traduz-se numa condição que integra o espectro bipolar, caracterizada por alterações inesperadas e recorrentes no humor, em que a pessoa vive entre momentos altos e baixos a nível emocional, entre a euforia e a tristeza, num ciclo que se repete ao longo do tempo, podendo também surgir momentos de estabilidade no temperamento em alguns períodos.
  A Ciclotimia é muitas vezes confundida com a Perturbação Bipolar, mas não se revela tão grave a nível do impacto na funcionalidade e a principal diferença está na menor intensidade das oscilações do humor e na duração mais curta dos períodos em que o humor se encontra alterado. 
• Depressão leve persistente: esta perturbação, anteriormente conhecida como distimia, assume-se como um tipo de depressão de intensidade moderada e duração mais longa do que a depressão.
  De facto, as pessoas com esta perturbação são tendencialmente depressivas no seu funcionamento de forma permanente, o que difere da depressão, que é um quadro que se pode instalar durante um período da vida, mas que é mais facilmente identificado como diferente do funcionamento habitual da pessoa.

Os sintomas particulares de cada perturbação do humor são os que estão no centro e mais definem as diferentes condições, mas há sintomas gerais e comuns que se podem identificar nos diferentes tipos de perturbação:

• Alterações na vitalidade e energia ni funcionamento diário;
• Presença de reações desproporcionais perante a exposição a situações de stress;
• Mudanças de estado afetivo sem motivos aparentes;
• Diminuição do interesse em atividades que anteriormente eram sentidas como geradoras de prazer;
• Dificuldades nas relações interpessoais;
• Alterações do apetite;
• Perturbações do sono;
• Vivência psicológica impregnada por emoções negativas;
• Alterações a nível psicomotor (aceleração ou lentificação);
• Desempenho social e profissional frequentemente afetados negativamente pelo impacto da perturbação.

As perturbações do humor apresentam causas multifatoriais, podendo ter a influência de fatores genéticos e ambientais. Por outro lado, a literatura sugere que estas perturbações podem também ser influenciadas por alterações bioquímicas no cérebro, relacionadas com os mecanismos reguladores da serotonina, um dos neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar e equilíbrio do humor.

Ainda, sabe-se que os acontecimentos de vida adversos podem também contribuir para o surgimento das perturbações do humor.

Para o estabelecimento de um diagnóstico preciso e de um tratamento bem ajustado às necessidades da pessoa, a compreensão dos diferentes tipos de perturbações do humor e suas especificidades é essencial.

A importância de uma avaliação detalhada e diferencial deve valorizada, dado que o apuramento de um diagnóstico correto é fundamental para um tratamento personalizado e adequado, caso contrário podem surgir complicações adicionais e criar obstáculos ao processo de recuperação.

Viver com uma perturbação do humor pode ser bastante desafiante e pode ter um efeito muito negativo, afetando as relações pessoais e muitas vezes também o desempenho no trabalho. 

De facto, as alterações do humor, que tanto na linha unipolar depressiva como na linha bipolar podem ter sintomas que podem durar vários dias ou até semanas, seja num sentido ou noutro têm grande impacto na vida da pessoa – muitas vezes originam uma perda significativa da saúde mental e física e, consequentemente, da autonomia. 

Nas perturbações que incluem a fase de hipomania, como a ciclotimia ou a perturbação bipolar, se muitas vezes é possível manter-se uma produtividade que até pode levar à sensação de que a rentabilidade e o desempenho estão aumentados, também é habitual surgirem sentimentos de mal-estar como uma grande inquietação e aumento da irritabilidade, com as naturais consequências que estes aspetos acarretam para as relações e funcionamento quotidiano.

Adicionalmente, é possível surgirem sentimentos de grandiosidade e de euforia, uma maior aceleração e impulsividade no pensamento e comportamento, que pode levar a comportamentos de risco – é frequente surgirem situações de gastos financeiros excessivos, outros consumos em excesso e até mesmo situações em que a pessoa se expõe a riscos físicos, com menor crítica para esta situação.

Muitas vezes só quando esta fase termina é que a pessoa consegue avaliar o alcance dos seus comportamentos anteriores e frequentemente não se identifica com as decisões e atitudes que teve durante o período hipomaníaco.

Por outro lado, nas perturbações da linha depressiva unipolar, que são habitualmente mais frequentes, surge também um impacto muito significativo na vida da pessoa – é frequente surgir uma grande preocupação com o fracasso e uma forte sensação de incapacidade e perda de autoestima, sentimentos de desespero e culpa excessiva, até mesmo sensação de vazio e pensamentos suicidas.

Por outra parte, costumam surgir sintomas de lentificação do funcionamento, hipersónia e maior dificuldade em reagir às diferentes solicitações que surgem no seu contexto de vida naquele período. Nestas circunstâncias, a pessoa muitas vezes acaba por não conseguir manter as tarefas habituais do dia-a-dia, ficando muitas vezes paralisada, com necessidade de fazer uma pausa em que temporariamente não consegue assumir as suas responsabilidades habituais.

Esta limitação causada pela intensidade dos sintomas associados à linha depressiva é temporária, contudo, é sentida com grande angústia pela pessoa e frequentemente é o fator que leva à busca de tratamento.

O tratamento baseado na evidência mais recomendado é uma combinação entre psicoterapia, terapia farmacológica (sempre que necessário) e alterações no estilo de vida. 

A colaboração entre os profissionais de saúde e a pessoa é fundamental para a boa implementação do plano de tratamento e, regra geral, permite assegurar a evolução e monitorizar os sintomas – é necessário manter um acompanhamento regulares e fazer ajustes no plano de tratamento sempre que necessário, de forma a potenciar os resultados e prevenir potenciais recaídas. 

Nas situações de depressão, a intervenção deve procurar encontrar um ajuste emocional e fortalecer o equilíbrio do humor – neste aspeto, a psicoterapia facilita a exploração pessoal, ampliando a autoregulação e desenvolvendo confiança e segurança, o que permite compreender melhor o funcionamento e assim encontrar estratégias para lidar com as dificuldades e, consequentemente, aproximar-se da recuperação e da mudança.

Quanto às alterações do humor na linha bipolar, o tratamento deve procurar prever e reduzir a oscilação entre episódios mais depressivos ou maníacos e, desta forma,  aumentar a estabilidade.

Nas perturbações do humor mais intensas é frequente a necessidade da toma regular de medicação, sendo que esta tem o papel de alívio mais rápido dos sintomas psíquicos, enquanto a psicoterapia irá ajudar a compreender e lidar com o problema de forma mais efetiva e eficaz.

1. Bipolar and related disorders. In: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders DSM-5. 5th ed. American Psychiatric Association; 2013. https://dsm.psychiatryonline.org
2. Bipolar disorder. National Institute of Mental Health. https://www.nimh.nih.gov/health/topics/bipolar-disorder/index.shtml
3. Mayo Clinic: https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/mood-disorders/symptoms-causes/syc-20365057
4. Kalin NH. Advances in Understanding and Treating Mood Disorders. In: The American Journal of psychiatry (Published Online). 1 Aug 2020. Available from: https://doi.org/10.1176/appi.ajp.2020.20060877
5. WebMD: https://www.webmd.com/mental-health/mood-disorders